sexta-feira, 30 de maio de 2008

A razão de estar aqui

Por que nascer? Por que morrer? Por que viver?

São tantas perguntas sem respostas que ficamos ás vezes andando muito desbaratinados pelo mundo.

É preciso saber o por quê das coisas, a lógica, o entendimento. E é natural que a gente queira saber. Viver é como amar. Digo isso baseada num livro que estou lendo no momento: Amor Líquido, de Zygmun Bauman. Uma das descrições dele a respeito do amor é exatamente essa: algo que não é possível projetar futuro. Não se sabe o que virá na frente. Popularmente dizendo: é um tiro no escuro.

Viver também é isso. Você vai caminhando num túnel escuro, como se fosse cego, e as coisas vão acontecendo, acontecendo...e da mesma forma que não se sabe o caminho de ida, também não se encontra o caminho de volta.

Complicado isso...

Poderia ter pelo menos uma janela para, caso não possamos pular, pudéssemos ao menos visualizar algo diferente da reta escura em que estamos.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O Poder do pau...

Depois de muito tempo resolvi falar do caso Ronaldo Fenômeno. O fato me lembrou um ótimo filme que vi há algum tempo: O Baixio das Bestas, de Cláudio Assis.
A película mostra a prostituição e suas várias formas, em uma cidadezinha no interior do país. O avô que explora a neta sexualmente; um grupo de jovens classe média que só pensam em sexo, e principalmente o violento, frequentando, dessa forma, um prostíbulo local; e a minúscula vizinhança que se finge de cega (aliás, fato muito comum num país de coisa alguma).
Tudo isso me veio a associação com o valor do pênis. Durante todo o filme, a figura desse órgão, tão dominador no ser masculino, é apresentado de forma nua crua (e digo isso em seu sentido concreto). Essas cenas acontecem de todas as formas: imagens dos jovens numa cachoeira conversando e mexendo no "amigo"; a relação sexual violenta entre as prostitutas e os jovens; e o prazer dos homens em ver uma menina, pré adolescente, semi-nua.
Com tudo isso, vejo que Ronaldinho continua a seguir as ações e atitudes de sua masculinidade. E o que digo não tem relação nenhuma com os travestis. Nada disso...É aquela história de "quem procura, acha". E ainda por cima a noiva pode estar grávida.
Não costumo julgar as pessoas. O ser humano é o animal que mais erra no mundo, partindo do princípio de que é o único que pensa. No entanto, tenho que admitir que muitas pessoas procuram problemas para si. Estão quietas, calmas em suas vidinhas confortáveis (não apenas em relação ao dinheiro, porque a vida pode ser confortável de várias formas) e de repente resolvem viver emoções fortes...querem correr riscos...sentir a adrenalina sendo liberada em seu corpo. A satisfação plena! Até certo momento. Porque quando tudo perde o controle e as consequências não pensadas começam a acontecer...É SÓ IR AO FANTÁSTICO DAR UMA ENTREVISTA QUE FICA TUDO BEM!! hehehe

domingo, 11 de maio de 2008

"Mãe é Mãe"

" Mãe é mãe.

Mãe diz que é pra gente se cuidar.

Mãe diz que a gente come pouco.

Mãe diz que a gente come demais.

Mãe briga que a gente dorme mal.

Mãe dorme mal.

Mãe é linda.

Mãe é carinhosa.

Mãe enche muito.

Mãe é carente.

Mãe é exigente.

Mãe faz a gente sentir culpa.

Mãe sente culpa.

Mãe fica doente pela gente.

Mãe é capaz de matar ou morrer.

Mãe pode tudo.

Mãe não quer nada.

Mãe quer muito.

Mãe gosta de qualquer coisa.

Mãe não gosta de nada.

Mãe não reclama.

Mãe resmunga o tempo todo.

Tem mãe que é cega.

Mãe faz comidinha.

Mãe cozinha mal.

Mãe odeia cozinhar.

Mãe erra no sal.

Mãe não gosta de ouvir reclamação.

Mãe tem paciência de Jó.

Mãe perde a paciência.

Mãe bate.

Mas mãe apanha da vida o que for preciso para proteger a gente.

Mãe faz muita falta.

Mãe não deveria morrer.

Como princípio da vida, mãe é, apesar de santa, o paradoxo do bem e do mal que existe em todos nós.

Mãe é bacana.

Mãe é chata.

Mãe é alegre.

Mãe é triste.

Mãe não desiste,

Mãe é mãe, só muda de endereço..."

Luis Caversan



Entre tantos problemas na vida (ou exatamente por eles) dedico o texto à minha.

Nem melhor, nem pior...e nem diferente...apenas a minha...

domingo, 4 de maio de 2008

Crimo e Castigo, Dostoiévski

Profundo e questionador! O famoso livro do escritor russo Dostoiévski nos coloca um questionamento: o crime como uma questão moral. O autor descreve com propriedade a pobreza da Rússia do séc. XIX. Entre becos, ruas sujas e pessoas de todo o tipo, ele nos leva a uma mundo comovente, mas realista, da miséria e suas consequências.

Raskólnikov, personagem principal da trama, é um jovem de 23 anos, que saiu do interior para cursar faculdade em São Petersburgo, Rússia, onde mora num pequeno quarto sub-locado. Como o próprio autor explica ao descrever o nome do personagem, este é uma pessoa confusa, que se vê sem dinheiro, praticamente na miséria e chega a passar fome. Premeditadamente ele mata uma senhora, que trabalha com penhora na cidade, de quem muitas pessoas da localidade se vêem presas por precisar de dinheiro (e ele se enquadra nesse grupo). Num desespero acaba matando também a irmã dessa senhora.

Na verdade o "Castigo" de Raskólnikov é conviver com o homicídio que cometeu a ponto de ficar doente, quase louco. Situação atenuada por constantes questionamentos do comissário de polícia, Porfiri, que o deixa confuso a cada capítulo. Porém, em nenhum momento é possível perceber algum arrependimento no ato que cometeu. Pelo contrário: Raskólnikov encara sua atitude, não como um homicídio e todo o peso que esse crime tem, mas como um favor a sociedade, por ter eliminado uma pessoa egoísta e que atrapalhava a vida de outra pessoas. Ele vê como uma “limpeza social”, na verdade.
Essa é uma das passagens que explica um pouco o pensamento do personagem:

- "...convenci-me de que o poder não é concedido senão àquele que ousa inclinar-se
para o tomar: é necessário ousar. Então ocorreu-me pela primeira vez na vida,
algo que jamais alguém havia pensado. Desde o dia em que se me revelou essa
verdade, clara como a luz do sol, quis ousar e matei..."(p.421)

Destaco como dois pontos fortes da história o dia da discussão no jantar na casa de Dúnia (irmã do personagem) em que Piotr (pretendente de Dúnia) chega à sua casa e se depara com Raskólnikov; e o dia do enterro de Marmieládov, em que Ekatierina (a viúva) se descontrola várias vezes e quando Piotr chega ao evento e acusa Sônia de roubo. Diálogos fortes, diretos e agressivos em boa medida.

A demonstração de que a mente, a miséria e a fome podem levar a ações que nem sempre são naturais de determinadas pessoas. E, principalmente, como os pensamentos mais íntimos nos levam ás vezes a ver o mesmo que os outros, mas a enxergar de forma diferente, o que é inerente a certeza de certo e errado.