domingo, 4 de maio de 2008

Crimo e Castigo, Dostoiévski

Profundo e questionador! O famoso livro do escritor russo Dostoiévski nos coloca um questionamento: o crime como uma questão moral. O autor descreve com propriedade a pobreza da Rússia do séc. XIX. Entre becos, ruas sujas e pessoas de todo o tipo, ele nos leva a uma mundo comovente, mas realista, da miséria e suas consequências.

Raskólnikov, personagem principal da trama, é um jovem de 23 anos, que saiu do interior para cursar faculdade em São Petersburgo, Rússia, onde mora num pequeno quarto sub-locado. Como o próprio autor explica ao descrever o nome do personagem, este é uma pessoa confusa, que se vê sem dinheiro, praticamente na miséria e chega a passar fome. Premeditadamente ele mata uma senhora, que trabalha com penhora na cidade, de quem muitas pessoas da localidade se vêem presas por precisar de dinheiro (e ele se enquadra nesse grupo). Num desespero acaba matando também a irmã dessa senhora.

Na verdade o "Castigo" de Raskólnikov é conviver com o homicídio que cometeu a ponto de ficar doente, quase louco. Situação atenuada por constantes questionamentos do comissário de polícia, Porfiri, que o deixa confuso a cada capítulo. Porém, em nenhum momento é possível perceber algum arrependimento no ato que cometeu. Pelo contrário: Raskólnikov encara sua atitude, não como um homicídio e todo o peso que esse crime tem, mas como um favor a sociedade, por ter eliminado uma pessoa egoísta e que atrapalhava a vida de outra pessoas. Ele vê como uma “limpeza social”, na verdade.
Essa é uma das passagens que explica um pouco o pensamento do personagem:

- "...convenci-me de que o poder não é concedido senão àquele que ousa inclinar-se
para o tomar: é necessário ousar. Então ocorreu-me pela primeira vez na vida,
algo que jamais alguém havia pensado. Desde o dia em que se me revelou essa
verdade, clara como a luz do sol, quis ousar e matei..."(p.421)

Destaco como dois pontos fortes da história o dia da discussão no jantar na casa de Dúnia (irmã do personagem) em que Piotr (pretendente de Dúnia) chega à sua casa e se depara com Raskólnikov; e o dia do enterro de Marmieládov, em que Ekatierina (a viúva) se descontrola várias vezes e quando Piotr chega ao evento e acusa Sônia de roubo. Diálogos fortes, diretos e agressivos em boa medida.

A demonstração de que a mente, a miséria e a fome podem levar a ações que nem sempre são naturais de determinadas pessoas. E, principalmente, como os pensamentos mais íntimos nos levam ás vezes a ver o mesmo que os outros, mas a enxergar de forma diferente, o que é inerente a certeza de certo e errado.

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